Quero hoje dizer-te uma coisa, algo que já sei há bastante tempo, e que também tu já sabes, mas talvez ainda não o tenhas dito a ti mesmo. Dir-te-ei agora aquilo que sei a respeito de mim, de ti e do nosso destino. Tu, Harry, foste um artista e um pensador, uma pessoa repleta de alegria e fé, sempre no encalço do grandioso e do eterno, nunca satisfeito com o formoso e o pequeno. Porém, quanto mais a vida te fez despertar e te devolveu a ti mesmo, tanto maior se tornou a tua miséria, mais profundamente te viste mergulhado no sofrimento, na inquietação e no desespero, até ao pescoço, e tudo aquilo que outrora consideraste, amaste e veneraste como belo e sagrado, toda a fé que em tempos tiveste nos seres humanos e no nosso elevado destino foi incapaz de te ajudar, tornou-se inútil e estilhaçou-se. A tua fé deixou de conseguir ter ar para respirar. E a asfixia é uma dura forma de morrer. Não é assim, Harry? É esse o teu destino?