Quando brilhou a aurora, dissolveram-se
Entre a luz as florestas encantadas
Arvoredos azuis e sombras verdes,
Como os astros da noite embranqueceram
Através da verdade da manhã.
E encontrei um paÃs de areia e sol,
Plano, deserto, nu e sem caminhos.
AÃ, ante a manhã, quebrado o encanto,
Não fui sol nem céu nem areal,
Fui só o meu olhar e o meu desejo.
Tinha a alma a cantar e os membros leves
E ouvia no silêncio os meus passos.
Caminhei na manhã eternamente.
O sol encheu o céu, foi meio-dia,
Branco a pique, sobre as coisas mortas.
Mais adiante encontrei a tarde lÃquida,
A tarde leve, cheia de distâncias,
Escorrendo de céus azuis e fundos
Onde as nuvens se vão pra outros mundos.
Um ponto apareceu no horizonte,
Verde nos areais como um sinal.
Era um lago entre calmos arvoredos
Não bebi a sua água nem beijei
O homem que dormia junto às margens.
E ao encontro da noite caminhei.
— Sophia de Mello Breyner Andresen